Quem aprovou?

Something Wrong while submiting form.

Após termos publicado, no post anterior, um recente e importante julgado no qual o Município de São José do Rio Preto fora condenado a indenizar vitima de barulho oriundo de evento realizado em parque público, oportuno relembrar um bem-elaborado artigo do ilustre publicitário Roberto Duailibi que descreveu mais um terrível drama ruidoso vivido no Rio de Janeiro no último carnaval.

Ipanema

Vejam o interessante artigo publicado em “O Globo“:

Quem aprovou?

É revoltante ver como o funk e o rap se impõem na base de alto-falantes de extrema potência. Quando desfilou o Simpatia, eles subiram o som para abafar o trio elétrico

por Roberto Duailibi
17/02/2018 0:00

O Rio de Janeiro é, sem dúvida, a mais rara combinação do talento humano com a beleza natural. Bairros como Ipanema e Leblon estão entre as coisas boas que foram criadas. As avenidas Vieira Souto e Delfim Moreira, largas, arborizadas, ladeadas de praias, como não se encontra em nenhum outro lugar do mundo, constituem um patrimônio incalculável. Tudo emoldurado pela natureza impecável. Mas o sonho dos que viram nesses bairros um lugar tranquilo — e que permitisse todos os dias trabalho e um lugar digno para descansar, viver e criar suas famílias — está ameaçado. A cena da senhora que foi comprar pão recebendo uma gravata, ou mata-leão, e sendo assaltada por quatro homens é emblemática do fim dos tempos.

O que mais me espanta em tudo isso é a falta de autoridade, de respeito. Vejam, por exemplo, a apropriação do espaço público na praia para uso comercial. Pois no último réveillon e, agora, no carnaval, os dois bairros foram contaminados por estranhos que, em conluio com alguém na prefeitura, se apoderaram de três hectares nas areias do Leblon, ao lado do Jardim de Alah (bem no meio entre Ipanema e Leblon e com um corredor para a Lagoa) e ali instalou o mais odioso dos pancadões.

Como se tivessem instalado centenas de caminhões diesel poluindo os bairros com uma fumaça intoxicante, o som insuportável invadiu casas, apartamentos, hotéis, escolas, igrejas, clínicas do Leblon, do Vidigal, da Cruzada São Sebastião, da Lagoa, de Ipanema, do Arpoador — das 14h às 22h, oito horas de gritaria, de pancadas, funk, rap e axé. A tortura começou no dia 10 de fevereiro e vai até o dia 18. Vi vários moradores indo ao pancadão reclamar do som. Duas senhoras, tratadas de forma indiferente, foram rodeadas por seguranças, que apenas repetiam “licença da prefeitura”.

Isso é falta de respeito com a vizinhança e a cidade. A praia é pública, não se pode cobrar entrada em nenhuma parte dela, ainda mais em três hectares. Quem deu a licença? Quem assinou sabia que a “festa” era uma agressão aos que pagam IPTU? O hotel em frente, Praia Ipanema, esvaziou. Vizinhos tiveram que viajar. O som era tão alto que ensurdecia.

Não sou contra o carnaval, muito pelo contrário, sou um dos poucos sobreviventes entre os fundadores da Banda de Ipanema (eu, o Ziraldo, o Jaguar e o Carlos Leonam), mas me revolta ver como o funk e o rap se impõem na base de alto-falantes de extrema potência. Quando desfilou o bloco Simpatia É Quase Amor, eles aumentaram o volume dos alto-falantes para abafar o trio elétrico.

Alguns cartazes informavam que a esbórnia era promovida por uma agência de nome FAÇA, por ironia localizada na Rua do Ouvidor. Não há uma referência a que órgãos da prefeitura ou de preservação do meio ambiente tal licença foi pedida. Aparentemente, o evento não tem patrocinadores, mas em troca de R$100 você podia entrar no cercado da praia e receber um balde com oito garrafas de cerveja. Conversando com um grupo de cariocas apaixonados pelo Rio, dedicados agora a agir no sentido de recuperar a imagem da cidade — um dos grandes patrimônios turísticos do mundo —, soube que Marcelo Alves, presidente da Riotur, achou um absurdo e, em pleno carnaval, conseguiu cassar a licença. Mas, na Quarta-Feira de Cinzas tudo voltou como antes. Afinal, quem aprovou a tal licença? Tem nome? Tem cargo? Sabia que estava cometendo uma violência contra a população?

Roberto Duailibi é publicitário

Fonte (original): O Globo
Autor: Roberto Duailibi
Link do original: Clique Aqui

 

 2,407 total views,  1 views today

Esta entrada foi publicada em Artigos, Carnaval, Notícias (Clipping), Pancadão, Pancadões, Poluição sonora, Prefeitura, Publicações, vizinho e marcada com a tag , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

1 respostas para Quem aprovou?

  1. É uma falta de bom senso para com a população que paga seus impostos, é uma covardia a invasao de nossas residencias com esse barulho desproposital, as pessoas ficam impedidas de ouvir sua propia musica, de assitir a tv, ler ou simplesmente descansar.

Deixe uma resposta