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Publicado no jornal Gazeta do Povo (Paraná) em 05/07/2009 | Fabiane Ziolla Menezes
Buzinas, motores de carro, música vinda do bar da esquina ou do salão de festas do condomínio. Saiba como impedir ou diminuir a presença de todo esse barulho em sua casa
Paredes e lajes estão mais finas, fruto da evolução da engenharia construtiva e da redução de custos. Por outro lado, a sociedade está cada vez mais barulhenta. Do carro, passando pelo elevador e o celular, tudo produz som, ou como se diz na linguagem popular “apita”. Esse excesso de ruído, até mesmo na hora do repouso, causa estresse, irritabilidade, cansaço, entre tantos outros sintomas de um corpo que está sempre em estado de alerta, não consegue descansar.
“Antigamente não só tínhamos menos ruídos, como morávamos em casas com paredes mais grossas e janelas menores, o que tornava mais fácil ter um conforto acústico em casa”, lembra o arquiteto com larga experiência na área de Acústica Arquitetônica, Domingos Bongestabs. Isso porque é justamente na descontinuidade (janelas e portas) da construção que ocorre a passagem do ruído externo, pelo ar. “Hoje cerca de 40% das construções é de descontinuidade.”
Destaque para o forro de gesso perfurado acústico que absorve os ruídos das vozes, diminuindo o barulho dentro do restaurante Barolo
Batente da porta do quarto do administrador João Antônio Pimenta e a esposa Elizabete Loewen foi feito com borrachas que ajudam a vedar a entrada de ruídos
Uma esquadria alemã de PVC, mas que parece madeira, foi usada em uma sala a prova de som, ideal para reuniões de negócios, no Barolo
Relato
Até o oxigênio ficou mais puro
Milhares de carros, ônibus, motoboys e caminhões num fluxo contínuo que nunca para, exceto nas noites de domingo e feriados. O barulho da rua onde moro é uma tortura para quem, como eu, precisa de silêncio para trabalhar, ver filmes sem aumentar no máximo o volume da tevê e…Deus, é preciso dormir. O que fazer? Colocar janelas antibarulho no apartamento. Maravilha! Até o oxigênio ficou mais puro, na mesma proporção em que meu estresse diminuiu. Elas salvaram minha sanidade mental. Mas não podemos subestimar a capacidade do ser humano em fazer mais e mais barulho. Melhorou, mas até quando?
Benett, cartunista da Gazeta do Povo
Nova norma obriga cuidados acústicos
A partir de maio do ano que vem a norma 15.575 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) entra em vigor em caráter obrigatório. A nova norma estabelece valores e exigências para o isolamento e o conforto acústicos das edificações brasileiras.
O último levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente mostra que houve 247 reclamações no mês de maio por poluição sonora no período da noite em Curitiba. Os bairros mais citados nas denúncias, como já era de se esperar, foram os centrais.
Ruídos de bares e casas noturnas e a movimentação de carros e pessoas em frente a esses estabelecimentos estão entre os principais motivos das reclamações. Mas não é só esse tipo de ocorrência que provoca ruídos. Escolas, igrejas e o barulho do trânsito também estão entre os causadores de desconforto externo aos moradores da cidade. “Medi o barulho gerado em um culto religioso uma vez, a pedido de um cliente que se incomodava bastante com o barulho. Encontrei 110 dB (decibéis) na hora da celebração, nível parecido a de uma casa noturna”, assinala Bogestabs.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e as legislações brasileira e municipal adotam um nível de poluição sonora aceitável de até 55 dB. “Isso corresponde ao barulho que chega da rua até o limite do seu terreno ou janela, não é o mesmo que o nível de conforto recomendável dentro de casa ou do ambiente de trabalho. Esse deve ser no máximo de até 45dB”, explica o arquiteto especializado em Cenotecnia e Acústica Arquitetônica, Claudionor Beatrice.
Primeiro passo
Acabar com frestas de portas e janelas é o primeiro passo para acabar com barulhos de origem externa porque, segundo o engenheiro mecânico, professor de Conforto Ambiental da Universidade Federal do Paraná, Aloisio Leoni Schmid, esses pontos têm menos material e alguns modos de vibração que facilitam a transmissão de ruídos. “Dificilmente uma parede íntegra em alvenaria constitui problema, a não ser para ruídos graves (como o som de impacto, o barulho de passos).”
Beatrice sugere materiais simples como borracha e escovinhas para acabar com frestas em portas e janelas. “Onde passa ar, passa som. Essa é a regra básica”. Ele e o professor Schmid ressaltam, no entanto, que é preciso manter a ventilação da casa, por uma questão de saúde dos moradores, buscando aberturas que estão fora do alcance do barulho externo que incomoda, como a basculante de um banheiro, por exemplo. Beatrice diz ainda que cortinas pesadas, com forro ou mesmo blackout (feito de borracha) também ajudam a barrar e absorver parte dos ruídos.
Se a vedação com borrachas não for suficiente, pode-se apelar para uma janela acústica, com um perfil sem folgas ou frestas, feitos, por exemplo, com PVC ou alumínio tipo estrutural glazing, que possui dois ou mais vidros laminados e forma uma barreira maior ao ruído. “Essa alternativa, porém, é dispendiosa (entre R$ 2 mil e R$ 4 mil por janela) e implica, algumas vezes, quando a entrada de ar sem ruído em outro ponto da casa não é possível, na instalação de um sistema de ventilação como o ar-condicionado”, diz Bongestabs.
O físico especializado na área de Acústica Arquitetônica, Geraldo Cavalcanti, comenta que a janela acústica é um ganho em relação ao isolamento térmico. “Isso em uma cidade fria como Curitiba deve ser levado em conta.”
Tampar frestas em janelas e portas também é útil no caso de barulhos gerados por vizinhos ou nas áreas comuns de condomínios quando esses vêm pelo ar. “Isso ocorre da janela do vizinho para a sua, ou mesmo do salão de festas no piso térreo para a sua janela ou porta do corredor”, esclarece Beatrice.
Lajes e paredes
Quando o barulho incômodo é o grave, como o caso de salto de sapato e o arrastar de mesas e cadeiras, a solução pode estar no isolamento de paredes e lajes (piso e teto). Antes disso, porém, é preciso considerar outras soluções simples e baratas como pedaços de feltro nos pés de mesas e cadeiras. “Pequenos círculos de silicone, vendidos em supermercado, colocados em vários pontos do batente das portas servem para absorver parte do impacto do bater de portas”, sugere Cavalcanti. Para o apartamento que fica logo acima ou ao lado do salão sem qualquer isolamento, porém, esses truques nem sempre são o bastante.
Que o diga o administrador João Antônio Pimenta e sua esposa, Elizabete Loewen, que moram, com dois filhos, em um apartamento na Avenida Iguaçu, em Curitiba. O casal comprou o apartamento do primeiro andar, em cima do salão de festas do prédio. “No primeiro e segundo meses não percebemos o erro porque nem todos os moradores tinham se mudado. Mas a partir do terceiro mês, começamos a perceber como o barulho de vozes, música, mesas e cadeiras no andar de baixo incomodava”, conta Pimenta.
Foram dois anos até o casal resolver tomar uma atitude severa a respeito, buscando uma empresa especializada no fornecimento e execução de obras acústicas, a Nível-Som, de Curitiba, para isolar, ao menos, o quarto do casal do caos. “O piso foi isolado com uma chapa de madeira, lã mineral e borrachas de alta densidade. Nas paredes foram usadas chapas de gesso acartonado, lã mineral e borracha de alta densidade. Já as portas foram substituídas por modelos acústicos, mais espessas e com recheio acústico e vedação especial. “A fresta da parte de baixo da porta também é vedada quando fecha e um tipo de guilhotina desce”, comenta o técnico comercial da empresa, Wadson França.
Passos
No caso do salto, no entanto, a solução é um pouco mais complicada. É preciso que o vizinho de cima coloque, logo abaixo do seu piso, uma manta acústica (de borracha). “Se isso não for feito você poderá isolar o seu teto, com borracha e uma placa de gesso acartonado (conhecido ainda como dry-wall)”, aponta Beatrice.
Soluções parecidas, com a construção de mais uma parede de alvenaria ou ainda a colocação de camadas de paredes de gesso acartonado, com lã de vidro ou de rocha, podem ser feitas nas paredes. Para esse tipo de isolamento, o fundamental é não encostar a parede antiga à nova ou ainda, no caso do gesso acartonado, usar amortecedores (borracha) entre elas. “Se o vínculo entre essas barreiras for criado, a transmissão do barulho permanece, com menos intensidade, mas continua”, diz Cavalcanti.
Para esse tipo de interferência, o professor Schmid aconselha o serviço especializado de um engenheiro (preferencialmente mecânico), físico ou arquiteto com comprovada experiência profissional, ou que tenha realizado sérios estudos em acústica. “Essa consulta é importante até para não fazer mais que o necessário”, avalia Cavalcanti.