Um estudo sobre o barulho provocado por aviões alerta
para os riscos do excesso de decibéis
Diogo Schelp (Revista Veja) Edição 2144 / 23 de dezembro de 2009
Fonte (original): http://veja.abril.com.br/231209/ruido-mal-p-150.shtml
O silêncio é um ilustre desconhecido das grandes cidades. Até nos momentos em que os serviços públicos que movem a vida moderna cessam – durante um blecaute, por exemplo –, os sons urbanos permanecem. E eles fazem mal à saúde. Pelos critérios da Organização Mundial de Saúde, ruídos constantes acima de 55 decibéis durante o dia e 40 decibéis durante a noite são nocivos. No cotidiano, um cidadão enfrenta diversas situações que extrapolam esses limites, de restaurantes cheios a ruas movimentadas. Dados sobre o impacto do barulho de aeroportos na saúde pública da Alemanha, divulgados na semana passada, mostram que os efeitos dos ruídos urbanos no organismo são ainda piores do que se sabia. O estudo, encomendado pelo governo alemão, cruzou os níveis de ruído registrados em bairros próximos a um grande aeroporto com o histórico médico de seus moradores – um total de 1 milhão de pessoas. Conclusão: a exposição permanente a mais de 40 decibéis aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como derrame, infarto e hipertensão. Os pesquisadores também descobriram que o risco de surgir um desses distúrbios é ainda maior em mulheres e pessoas submetidas ao barulho de aviões durante a noite. Chega a ser assustador: uma mulher exposta todas as noites a 55 decibéis ou mais tem 139% mais probabilidade de sofrer um derrame cerebral do que a média da população.
Os autores do estudo acreditam que a maior vulnerabilidade das mulheres pode ser explicada pelo fato de elas permanecerem mais tempo em casa do que os homens – e, portanto, ficarem expostas por mais tempo ao barulho do aeroporto. Já a razão para os efeitos serem especialmente nefastos à noite é bem conhecida pela ciência: para ter um sono realmente restaurador, o ideal é que os ruídos do ambiente não ultrapassem os 35 decibéis. Como um ar-condicionado velho a 2 metros de distância (cerca de 60 decibéis) produz um nível de ruído equivalente ao de um avião a 250 metros de altitude, isso significa que é melhor passar calor durante a noite? Certamente, o mais saudável seria trocar o aparelho – os novos modelos de ar-condicionado registram menos de 40 decibéis. Mas o avião tem uma agravante: ele produz um som intermitente, ao contrário do barulho constante do ar-condicionado. “O organismo de uma pessoa dormindo submetida a um ruído intermitente reage como se estivesse sendo agredido e, assim, entra em alerta, mesmo que não se acorde”, explica o neurofisiologista mineiro Fernando Pimentel de Souza. “Isso mantém o indivíduo em um estado de sono fragmentado e eleva a pressão arterial.”